Em nosso mundo cada segundo é preenchido por algum tipo de distração — seja uma tela piscando, um brinquedo que emite sons, ou atividades minuciosamente planejadas.
Parece que o tédio se tornou quase uma ameaça a ser eliminada a qualquer custo. Mas será que essa corrida para evitar o tédio é realmente boa para nossas crianças?
O que muitos não percebem é que o tédio não é o vilão da história. Na verdade, ele pode ser um dos melhores professores que os pequenos terão na vida, ajudando-os a desenvolver uma coisa essencial: a resiliência emocional.
Este é o terceiro artigo da nossa série sobre a importância do tédio para o desenvolvimento infantil. Pegue uma xícara de café, relaxe e aproveite a leitura para descobrir como o tédio pode ser um grande aliado no desenvolvimento da resiliência na vida das crianças.
O Que é Resiliência Infantil?
Resiliência é aquela habilidade mágica — embora nada fácil de adquirir — que permite às crianças (e adultos) se levantarem depois de um tombo, enfrentarem situações desafiadoras e, acima de tudo, aprenderem com as adversidades.
E, no mundo infantil, essa habilidade é ainda mais valiosa, já que cada pequena frustração, mudança ou obstáculo pode parecer um gigante a ser enfrentado.
- Superar Frustrações? Sim, Elas Conseguem!: Quando falamos de crianças resilientes, estamos falando de pequenos seres que aprendem, desde cedo, a lidar com a falta de respostas rápidas, o atraso no prazer imediato, ou até mesmo a ausência de estímulos constantes.
É como dar a elas uma armadura emocional que será fundamental ao longo da vida. - Adaptação às Mudanças: O mundo está em constante movimento. Hoje é uma rotina, amanhã, tudo muda.
Crianças que aprendem a se adaptar às mudanças, com equilíbrio emocional, estarão preparadas para os desafios, seja uma troca de escola, amigos, ou simplesmente uma mudança de regras no jogo.
2. O Papel do Tédio no Desenvolvimento da Resiliência
Ah, o tédio. Aquela sensação desconfortável de que nada está acontecendo, que tudo parou. Para muitos pais, isso soa como o pior dos pesadelos.
Para as crianças, porém, o tédio é como um treino de alta intensidade para o cérebro e as emoções. Ao enfrentarem o vazio de não terem algo pronto e mastigado para fazer, elas começam a lidar com seus sentimentos internos.
- Frustração: Uma Ferramenta de Aprendizado: Quando uma criança reclama de tédio, ela está sentindo a frustração de não ter um estímulo imediato.
A primeira reação pode ser pedir ajuda e buscar um entretenimento fácil. Mas se deixarmos que ela sinta um pouco desse desconforto, algo incrível acontece: ela aprende a tolerar.
Aprende que nem sempre o mundo vai responder na velocidade que ela quer, e, mais importante, aprende a gerenciar suas próprias emoções. - Desenvolvimento de Habilidades de Autogestão: Durante esses momentos de tédio, as crianças também começam a desenvolver uma habilidade raríssima e valiosa: a autogestão.
Elas aprendem a criar suas próprias soluções para preencher o tempo e a lidar com a monotonia. Isso não apenas aumenta sua independência emocional, mas as prepara para o futuro, onde nem sempre terão alguém para resolver seus problemas.
O Tédio como Ferramenta para a Criatividade e a Resiliência
Agora, aqui vai uma verdade surpreendente: o tédio é o melhor amigo da criatividade. Sim, você leu certo.
Em vez de ser um mal a ser evitado, ele pode se transformar na centelha que acende a imaginação das crianças. É nesses momentos de aparente “nada para fazer” que surgem as melhores ideias, os jogos mais inovadores e as invenções mais malucas.
- Soluções Criativas nascem do Tédio: Diante do tédio, a criança não tem outra opção a não ser criar. E é nessa criação que nasce algo valioso: o pensamento criativo.
Desde inventar um jogo usando objetos aleatórios até encontrar novas formas de se entreter, tudo isso gera uma verdadeira explosão de soluções que, por sua vez, aumentam sua capacidade de resolver problemas e se adaptar às novas situações. - Confiança: O Resultado de Superar o Tédio: Quando a criança vence o tédio por conta própria, algo poderoso acontece: ela ganha confiança.
Não é aquela confiança forçada, é um tipo de confiança genuína que vem de saber que ela pode, sim, se virar sozinha, que pode encontrar soluções, que pode passar por um desafio emocional e sair mais forte.
Essa confiança é a base da resiliência, pois a ensina que, seja qual for o desafio futuro, ela tem as ferramentas para enfrentá-lo.
Estratégias para Promover a Resiliência Através do Tédio
Se você chegou até aqui, deve estar se perguntando: “Ok, entendi, o tédio é importante. Mas como eu posso incentivar isso sem deixar meu filho ou minha filha se sentirem abandonados?”.
A chave está em criar o espaço e o ambiente certos, onde o tédio possa acontecer naturalmente, sem ser interrompido por soluções fáceis e imediatas.
- Dê Espaço para o Tempo Livre: Para que o tédio cumpra seu papel no desenvolvimento emocional da criança, ela precisa de tempo livre.
Isso significa não encher a agenda dela com atividades o dia todo, mas permitir que existam brechas, momentos de pausa, onde ela possa explorar seu próprio mundo interior. - Evite a Tentação das Soluções Rápidas: Quando uma criança diz “Estou entediada”, é fácil cair na armadilha de ligar a TV ou dar algum brinquedo novo.
Mas ao fazer isso, você tira dela a oportunidade de aprender a gerenciar o tédio. Em vez disso, permita que ela se sinta frustrada por um tempo. Confie no processo, ela encontrará algo para fazer. - Reflexão Pós-Tédioo: Depois que a criança supera o tédio, incentive uma pequena reflexão. Pergunte: “O que você inventou para se divertir?” ou “Como foi encontrar uma solução?”.
Essas perguntas ajudam a criança a perceber o valor desse processo e a reconhecer as próprias capacidades de adaptação.
Considerações Finais
Ao contrário do que muitos pensam, o tédio não é o vilão. Ele é um poderoso aliado no desenvolvimento da resiliência infantil.
É através dele que as crianças aprendem a enfrentar frustrações, desenvolvem autogestão e descobrem soluções criativas.
Pais e educadores podem (e devem) incorporar o tédio de maneira equilibrada no dia a dia das crianças, permitindo que elas experimentem essa emoção desconfortável, mas tão essencial para o crescimento emocional.
Afinal, é nas lacunas de estímulos que se escondem as maiores oportunidades de aprendizado e fortalecimento. Obrigada pela leitura!
Não deixe de ler nosso próximo artigo, que abordará como a ausência de estímulos incentiva a socialização infantil.
Bibliografia
- Ferreira, R. M. (2015). Resiliência Emocional na Infância: Como o Tédio Pode Contribuir. Rio de Janeiro: Zahar.
- Pereira, M. L. (2017). Desenvolvimento Infantil e Autonomia: O papel do tédio no crescimento pessoal. São Paulo: Editora Pearson.
- Alves, M. P. (2013). Neuropsicologia do Desenvolvimento: A importância do brincar e do tempo livre. Porto Alegre: Artmed.
- Ziegler, D., & Hovestadt, G. (2012). Psicologia e Desenvolvimento Infantil: Teorias e Práticas. São Paulo: Editora Pearson.
- Oliveira, T. C. (2016). Criatividade Infantil: Como Estimular a Imaginação Através do Tédio. Curitiba: Juruá Editora.