Nos últimos dias, o termo bebê reborn tem ganhado grande destaque nas redes sociais — a maioria em forma de piada e zombaria. Vídeos de mulheres que tratam esses bonecos hiper-realistas como filhos provocaram críticas, piadas e julgamentos. No entanto, por trás dessas imagens virais existe um universo legítimo de arte, acolhimento, cuidado e até superação emocional.
O que é um bebê reborn?
Um bebê reborn é uma boneca artesanal criada com técnicas avançadas de pintura e montagem, cujo objetivo é se assemelhar o máximo possível a um bebê real.
O processo começa com a escultura do bebê, seguida da produção de kits em vinil — conhecidos no Brasil como “moldes reborn”.
As artistas, chamadas carinhosamente de “cegonhas reborn”, aplicam pintura em várias camadas, implantam fios de Mohair (lã de alpaca) ou fibra sintética usada em apliques e finalizam a montagem em um corpo de tecido com enchimento, simulando o peso e toque de um recém-nascido.
Além dos modelos tradicionais, também existem os bebês reborn feitos inteiramente de silicone, conhecidos como ‘full silicone’. Esses exemplares são ainda mais realistas, pois possuem textura macia, peso semelhante ao de um recém-nascido e movimento corporal mais natural.
Por serem extremamente delicados e exigirem cuidados especiais, são indicados principalmente para colecionadores e entusiastas da arte reborn. Seu valor costuma ser significativamente mais alto, refletindo o trabalho minucioso e os materiais de alta qualidade envolvidos em sua criação.”

O que significa reborn?
A palavra “reborn” vem do inglês e significa “renascido”. Esse nome não é aleatório: ele representa com precisão o espírito dessa arte. Quando artistas começaram a criar bebês reborn nos anos 1990, o processo consistia em pegar uma boneca industrializada e transformá-la completamente, dando a ela uma nova aparência — muito mais realista, detalhada e humana.
O processo de “renascimento” da boneca inclui:
- Remoção completa da pintura original
- Aplicação de camadas translúcidas de tinta para simular a pele verdadeira
- Enxerto fio a fio de cabelo
- Substituição de olhos, colocação de cílios e detalhes como veias, manchas e brilho labial
- Adição de peso ao corpo para simular o peso real de um bebê
Por isso, o nome reborn traduz a essência do trabalho: não é apenas uma boneca criada — é uma boneca que “renasce” pelas mãos do artista. Hoje em dia, embora a maioria dos artistas use kits específicos em vez de bonecas prontas, o nome foi mantido por representar essa transformação profunda.
Mais do que um termo técnico, “reborn” carrega também um simbolismo emocional. Muitas pessoas veem nessa arte um espaço de reconexão com sentimentos, memórias e até com o próprio processo de cura interior.
A origem do bebê reborn
Anos 1940–1950 (Europa pós-guerra):
- Mães e avós restauravam bonecas antigas, danificadas pela guerra, pintando e vestindo com roupas reais de bebê.
- Esse gesto, simples e afetivo, é considerado o embrião da arte reborn.
Anos 1990 (Estados Unidos):
- O termo “reborn” (renascido) ganhou força quando artistas começaram a modificar bonecas comerciais para torná-las hiper-realistas.
- O processo envolvia remoção de pintura, aplicação de várias camadas de cor translúcida, enxerto fio a fio de cabelo, enchimento com peso, substituição de olhos e aplicação de detalhes como veias e manchas.
- Era literalmente um renascimento da boneca — daí o nome “reborn”.
- A venda começou por plataformas como eBay e Etsy.
Anos 2000 em diante (Internacionalização):
- A arte se espalhou pela Europa, América Latina e Ásia.
- Surgiram eventos internacionais como a ID&TS e a Expo Doll Show Valencia.
- O uso dos reborns se expandiu para áreas como:
- Terapia do luto
- Simulações de enfermagem e obstetrícia
- Apoio emocional em hospitais
- Colecionismo artístico
Hoje:
- Os reborns são criados a partir de kits exclusivos de escultoras renomadas como Bonnie Brown, Cassie Brace e Laura Lee Eagles.
- Existem duas grandes categorias:
- Vinil pintado: comum, firme e realista.
- Silicone inteiro (full silicone): mais realista, delicado e caro.
- A maioria das artistas hoje trabalha com moldes próprios, não mais com bonecas industrializadas.
Minha experiência pessoal com a arte reborn
Falo sobre bebê reborn com propriedade. Fiz vários cursos na área, e em 2019 viajei à Espanha para participar da Expo Doll Show Valencia, um dos maiores eventos do mundo nesse segmento. Lá, fiz um curso de escultura com artistas renomadas como Samantha L Gregory e Nikki Johnston.
Vi de perto:
- Artistas premiadas compartilhando técnicas únicas.
- Expositores de mais de 10 países.
- O reconhecimento da arte reborn como expressão legítima, sensível e técnica.
Fazer bebê reborn é um ofício sério — e merece respeito
Claro que toda prática pode ter exageros, mas isso não define o todo. Muitas mulheres que trabalham com reborns:
- Estão divulgando seu trabalho como artistas.
- Vivem processos de superação emocional (luto gestacional, solidão, Alzheimer etc.).
Fazer bebês reborns é um artesanato, e como qualquer outra forma de arte manual, pode ajudar de forma financeira, emocional e terapêutica — seja como fonte de renda, seja como espaço de expressão, foco e acolhimento.
Julgar esse universo sem conhecê-lo é negar a complexidade do ser humano e desrespeitar histórias reais de superação, sensibilidade e talento que estão por trás de cada bebê reborn.

Quanto custa um bebê reborn?
O preço varia conforme o material e a artista. Em média:
- Um bebê reborn de vinil feito com kit original pode custar a partir de R$ 2.000,00 no Brasil. Infelizmente o país está no ranking dos países que mais produzem Kits piratas. Se o bebê custa apenas R$ 500,00, provavelmente não foi feito com kit original.
- Já um bebê de silicone platinum pode custar a partir de R$ 2.500,00, considerando que 1 kg de silicone custa em torno de R$ 450,00 (além dos outros materiais necessários que são caríssimos) e que o trabalho para produzir é bem maior que um bebê de vinil. Se encontrar um bebê de silicone de 1kg sendo vendido por R$ 600,00, desconfie da segurança e da qualidade do material usado.
A polêmica nas redes: recorte ou realidade?
Vídeos com “partos simulados”, “chás revelação” e rotinas com reborns viralizaram. Influenciadores zombaram, muitos compartilharam sem contexto. Mas por trás disso, há:
- Divulgação do trabalho de artistas.
- Encontros entre colecionadoras.
- Produção de conteúdo para monetização.
Em todos os anos em que atuei nesse meio — inclusive em contato com artistas nacionais e internacionais — nunca conheci alguém que realmente acreditasse que o bebê reborn fosse real ou que o tratasse como tal com outra finalidade que não fosse artística, expositiva ou de marketing. Ainda assim, não descarto a possibilidade de que essas pessoas existam.
Na verdade, era comum as professoras recomendarem que alunas saíssem com os reborns para divulgar seus trabalhos. E funcionava: lembro de ter ido comprar uma roupinha para um bebê vendido, e ao mostrar a foto no celular, as vendedoras da loja de roupas para bebês ficaram encantadas e já queriam comprar.
Antes de 2015 já havia artistas reborn no Brasil como Monickie Ürbanjos. Mas a popularização dos conteúdos no Brasil ocorreu por volta de 2016, com alta produção de vídeos no YouTube que impulsionou a visibilidade da arte.
Infelizmente, vi criadores de conteúdo espalharem teorias distorcidas, comparando os reborns a bonecas para uso adulto, o que não tem nenhuma ligação com a origem dessa arte — que começou com mães e avós restaurando bonecas para suas filhas, num gesto simples e bonito de cuidado.
Não nego que existam pessoas tratando os bebês reborn como se fossem filhos reais — e, em alguns casos, isso pode sim indicar a necessidade de apoio psicológico.
Mas, em tempos em que tanto se fala sobre empatia, será que não é justamente agora que ela deve ser praticada? Se alguém está em sofrimento a ponto de confundir realidade e fantasia, será que zombar ou ridicularizar é o caminho para ajudá-la? Provavelmente não. O cuidado começa com o olhar acolhedor, não com o julgamento.
A polêmica nas redes sociais só cresce. A cada dia, surge um vídeo mais absurdo que o outro, transformando essa arte — que agora virou alvo de chacota — em motivo de piada.
Mas por trás dos bonecos há muito mais: existe um trabalho artesanal minucioso, um mercado aquecido e, principalmente, um caminho empreendedor que garante, de forma honesta, o sustento de muitas famílias. Para muitas mulheres, especialmente, a arte reborn representa independência financeira, superação e a realização de um sonho profissional.
Devo dar um bebê reborn para minha filha?
Depende da idade e maturidade da criança.
Bebês reborn não são brinquedos comuns. São peças delicadas, feitas com pinturas detalhadas e materiais delicados. Por isso, não são recomendados para crianças muito pequenas.
Mas para meninas a partir de 7 ou 8 anos, que já demonstram responsabilidade e interesse por cuidados simbólicos, o bebê reborn pode ser:
- Um instrumento para desenvolver empatia e responsabilidade.
- Uma forma de brincar de faz de conta com profundidade emocional.
- Um elo afetivo com a imaginação, o carinho e o acolhimento.
Dicas importantes:
- Prefira modelos mais simples, feitos especialmente para o público infantil.
- Acompanhe os primeiros dias com supervisão e orientação.
- Transforme a entrega do bebê em um momento educativo e afetivo.
Conclusão
Em meio a julgamentos apressados e vídeos fora de contexto, os bebês reborn continuam despertando emoções, encantamento e, acima de tudo, conexão. Para alguns, são obras de arte. Para outros, uma ferramenta terapêutica. Para muitos, uma fonte de renda digna e criativa. E para muitas crianças fonte de alegria e criatividade.
É essencial olhar para além da superfície e compreender que a arte reborn vai muito além de modismos ou polêmicas virais. Ela é feita de história, paciência, técnica e sentimento. Cada bebê reborn carrega um pouco da alma de quem o criou — e, muitas vezes, da pessoa que o recebe.
Antes de julgar, observe com mais cuidado. Talvez, no silêncio de um ateliê ou no colo de uma criança cuidadosa, exista mais verdade, sensibilidade e beleza do que em muitos dos vídeos que viralizam por aí.
Que possamos enxergar a arte como ela é: humana, sensível e merecedora de respeito.
Este artigo busca trazer um olhar justo e verdadeiro sobre os bebês reborn, afastando-se dos julgamentos apressados e valorizando a arte, o cuidado e a humanidade que essa prática carrega.
Tem alguma dúvida sobre a arte reborn? Acha que faltou alguma informação no artigo? Deixe seus comentários abaixo e vamos continuar essa conversa com respeito e curiosidade.